Goiânia, 26/01/2025
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Atropelamentos em Goiânia evidenciam trânsito perigoso para pedestres

23/08/24

A morte de Adelina Maria Resende, de 79 anos, em Goiânia, expôs a vulnerabilidade dos pedestres em uma cidade onde o trânsito se mostra cada vez mais hostil. Adelina foi atropelada enquanto atravessava uma faixa de pedestres praticamente apagada na Avenida Santa Maria, no Setor São Francisco, no início da noite. Um motoqueiro, que subia a ladeira em direção à Rodovia dos Romeiros, não conseguiu parar a tempo e a colidiu violentamente, lançando-a alguns metros à frente.

Ao jornal Opção, Jales Resende, o marido de Adelina, relembrou com pesar o momento em que viu o corpo de sua esposa no chão. “Dia 29 de abril ela foi acidentada por um motoqueiro, agora estou só eu e meus cachorrinhos. Igual a ela, não vai ter não. 56 anos de casados e nunca tivemos uma divergência de nada, é uma falta irreparável, muito difícil falar dela. Ela tava (sic) com a perna quebrada, foi uma fratura exposta. Tentei chamar o nome dela, mas ela não respondeu”, contou. 

A via onde ocorreu o acidente é conhecida pela comunidade local como um ponto perigoso, com um histórico de acidentes graves e insegurança para os transeuntes. “Povo abusa muito, tem motoqueiros que vem empinando motos. O trânsito nosso em Goiânia é muito abusivo, as pessoas gostam de fazer besteiras. Muitas pessoas foram atropeladas aqui nesse trânsito indecente e nada é feito por causa dessa lei falha”, desabafa Jales.

Adelina se junta a um triste grupo de 27 pedestres que perderam suas vidas em atropelamentos na capital goiana em 2024, segundo dados da Delegacia de Crimes de Trânsito (Dict). Em resposta a esses números, o Departamento de Trânsito de Goiás (Detran-GO) tem promovido uma série de ações educativas com o intuito de sensibilizar motoristas e pedestres sobre a importância de atravessar nas faixas e respeitar as regras de trânsito. “Até o momento, já foram realizadas mais de 110 ações em vias públicas, destacando a importância da educação no trânsito para a construção de um ambiente mais seguro”, informa o órgão.

No entanto, o problema persiste. Em 2023, 40 pessoas morreram vítimas de atropelamentos em Goiânia, conforme o Boletim Epidemiológico do Programa Vida no Trânsito de 2024 da Prefeitura de Goiânia. Os pedestres representam o segundo maior grupo de vítimas fatais em acidentes de trânsito na cidade, um reflexo da vulnerabilidade desse público.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) coloca os acidentes de trânsito entre as principais causas de morte globalmente, especialmente entre jovens de 15 a 29 anos. No Brasil, o cenário é igualmente preocupante, com cerca de 30 mil mortes anuais por acidentes de trânsito, conforme o Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde. Em 2023, mais de 35 mil óbitos ocorreram nas vias brasileiras, com pedestres, ciclistas e motociclistas entre os mais afetados.

Especialistas apontam diversas causas para esses acidentes, incluindo a imprudência dos motoristas, a falta de infraestrutura adequada e a ausência de fiscalização rigorosa. “O excesso de velocidade, o uso de celulares ao volante e a condução sob efeito de álcool ou drogas são comportamentos comuns que aumentam os riscos nas estradas e avenidas do país”, alerta o professor do Instituto Federal de Ciência e Tecnologia de Goiás (IFG) Marcos Rothen.

Rothen destaca que a infraestrutura urbana frequentemente ignora as necessidades dos pedestres. “Por exemplo, se a gente der uma olhada ali no Jamel Cecílio, ali foi feito aquele viaduto e o pedestre foi esquecido”, comenta. Ele também menciona locais como a Praça do Cruzeiro e outros viadutos como armadilhas para pedestres, onde a travessia é perigosa devido à falta de sinalização e infraestrutura adequada.

Poliana de Souza Leite, professora da Faculdade de Ciência e Tecnologia da Universidade Federal de Goiás (FCT-UFG), critica a falta de coordenação entre os órgãos responsáveis pelo planejamento e execução das políticas de mobilidade urbana. “Temos uma secretaria para cuidar da mobilidade e uma para cuidar da infraestrutura. Quem faz o planejamento não é o mesmo que faz a execução e isso está deixando a desejar no resultado”, explica.

A Prefeitura de Goiânia implementou recentemente o Plano de Mobilidade Urbana (PlanmobGyn) com a colaboração da Universidade Federal de Goiás (UFG), que realizou um estudo sobre mobilidade na cidade. O estudo revelou um aumento significativo no uso de transporte individual e uma leve queda no uso do transporte coletivo. “Quando esses prédios ficarem prontos vamos ter um aumento significativo no número de deslocamentos de todos os tipos de veículos e também de pedestres, novamente, em um local já saturado”, acrescenta Poliana.


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