06/04/25
A largada para a corrida presidencial de 2026 foi dada. E enquanto muitos ainda aguardam definições, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), já ocupa o centro do palco. Na última sexta-feira, 4, em Salvador (BA), Caiado lançou oficialmente sua pré-candidatura ao Palácio do Planalto em um evento com forte simbologia: um reduto petista, um auditório lotado e a presença de cerca de 130 prefeitos goianos, 30 dos 41 deputados estaduais de Goiás e aliados de todo o país.
“Hoje, Goiás virou Bahia e Bahia virou Goiás”, resumiu o senador Sérgio Moro (União-PR), em tom de celebração, ao ver o tamanho da mobilização.
Com o slogan “Coragem para endireitar o Brasil”, Caiado aposta em três pilares que podem colocá-lo em posição privilegiada na disputa presidencial: independência no campo da direita, moderação no discurso político e um legado consolidado na área de segurança pública.
Trunfo 1: Independência em um campo órfão
Caiado aposta alto na autonomia política. Em um momento em que a direita ainda vive à sombra do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) — inelegível e sem sucessor claro —, o governador goiano se movimenta. Enquanto nomes como Tarcísio de Freitas (SP), Romeu Zema (MG), Ratinho Júnior (PR) e até Michelle Bolsonaro aguardam a benção do ex-presidente, Caiado já ocupa os espaços vazios.
Mesmo com histórico de bom relacionamento com Bolsonaro, Caiado faz questão de marcar posição: está na disputa por mérito próprio. O governador lembra, com frequência, que sua trajetória política é anterior ao fenômeno bolsonarista. Foi um dos principais opositores do PT nos anos 1980, defensor do agronegócio e da propriedade privada, e já se apresentava como voz conservadora quando o bolsonarismo ainda não existia.
A postura autônoma, inclusive, tem chamado a atenção do próprio Bolsonaro, que recentemente buscou reaproximação com Caiado após divergências nas eleições municipais. O goiano, por sua vez, tem adotado um discurso de respeito ao ex-presidente, afirmando que ele “não está fora do jogo”, mas sem condicionar sua candidatura a qualquer apoio. Para Caiado, Bolsonaro pode fortalecer o projeto — mas não é pré-requisito.
Trunfo 2: A moderação como caminho
Outro diferencial é o discurso equilibrado. Em tempos de polarização exaustiva e radicalismos que desgastaram a imagem da direita junto a parte do eleitorado, Caiado tenta ocupar o espaço do conservadorismo racional e pragmático.
Uma pesquisa do DataSenado/Nexus revelou que 40% dos eleitores não se identificam com ideologias políticas. Apenas 29% se declaram de direita, 15% de esquerda e 11% de centro. Isso reforça o argumento do próprio Caiado, que critica o clima de guerra ideológica.
“O povo cansou desse discurso enjoado. [...] O Brasil tem que voltar àquilo que é de interesse do cidadão. O que precisa acabar é com essa tese de que, ganhou a eleição, um vai pro céu e o outro vai pro inferno. [...] A população não quer mais viver com isso, ela cansou, ela quer resultados”, declarou o governador em entrevista no fim de 2023.
A aposta, portanto, é conquistar o eleitorado de centro-direita e conservadores que se frustraram com os excessos do bolsonarismo, mas que não veem alternativa na esquerda.
Trunfo 3: Segurança pública como vitrine
O terceiro e mais concreto trunfo de Caiado é a área de segurança pública, que será o carro-chefe da campanha. Em Salvador, ao falar sobre o tema, o governador inflamou os presentes.
“Quando eu falo de segurança pública, não é porque é um segmento da responsabilidade do governador. Eu falo com o que eu sei, que no Estado Democrático de Direito, quando se tem segurança pública, se tem gestão plena”, afirmou.
E completou: “Quando assumi o governo, Goiás era a Disneylândia dos bandidos. Roubava-se pra todo lado. Ninguém tinha paz. As facções tomavam conta […]. Mas eu disse na frente das minhas tropas: ou o bandido muda de profissão, ou muda de estado”.
O discurso encontra eco nos dados. Pesquisa Genial/Quaest divulgada em abril mostra que a segurança pública é hoje a principal preocupação do brasileiro, apontada por 29% dos entrevistados como o maior problema do país.
Caiado, que é médico, ex-deputado federal e ex-senador, tem uma longa trajetória na política e conseguiu transformar a segurança em Goiás em sua principal marca. Em tempos de clamor por ordem e eficiência, esse capital político pode ser decisivo.