13/04/25
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) deixou claro, em entrevista ao jornalista Paulo Cappelli (Metrópoles), que sua prioridade em 2026 não será eleger governadores, mas conquistar vagas no Senado. Em Goiás, dois nomes do Partido Liberal despontam como seus possíveis representantes na disputa: Gustavo Gayer, deputado federal e figura popular entre os eleitores bolsonaristas, e Vitor Hugo, ex-líder do governo na Câmara e reconhecido por sua fidelidade.
Ao indicar seus “generais” para o Senado, Bolsonaro revela a essência de sua estratégia para os próximos anos: garantir uma base sólida na Casa Alta capaz de aprovar uma possível anistia e blindá-lo juridicamente. “Bolsonaro não quer brincar de fazer política em campanhas estaduais apenas para agradar aliados regionais”, resume um interlocutor do PL. “Ele quer votos no Senado”.
Esse foco pragmático abre espaço para um movimento político relevante em Goiás: a possibilidade de o PL selar aliança com a base governista, liderada por Daniel Vilela (MDB), pré-candidato ao governo, e apoiada por Ronaldo Caiado (UB). Em troca da vaga ao Senado, Bolsonaro estaria disposto a abrir mão de lançar um nome ao Palácio das Esmeraldas.
Para o ex-presidente, o cálculo é simples: senadores votam em PECs, governadores não. Ter 54 senadores “do PL ou simpáticos à sua causa”, como repete em bastidores, daria a ele o poder necessário para promover mudanças constitucionais e pressionar o Supremo Tribunal Federal, inclusive com uma eventual PEC para o impeachment de ministros. Essa ambição tem ditado suas articulações e está por trás dos atos recentes em defesa da anistia.
A intenção de Bolsonaro é respaldada pelo presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto. Segundo o vereador goianiense Coronel Urzêda (PL), “Bolsonaro deixou claro que, com sua orientação, Valdemar vai interferir diretamente nos nomes que concorrerão ao Senado em todos os estados, incluindo Goiás”.
Em solo goiano, essa interferência pode se traduzir em uma composição inédita: Daniel Vilela como cabeça de chapa ao governo, um nome do União Brasil na vice e duas vagas ao Senado divididas entre Gracinha Caiado (UB) e um nome do PL — possivelmente Gayer ou Vitor Hugo, dependendo do cenário jurídico e político em 2026.
Embora o PL hoje seja identificado com o bolsonarismo, sua base municipal em Goiás nunca rompeu totalmente com o grupo liderado por Caiado e Vilela. Antes de Bolsonaro se filiar ao PL, em 2021, prefeitos como Carlinhos do Mangão (Novo Gama) integravam a aliança entre MDB e UB. “É praticamente impossível governar sem o apoio do Estado, ainda mais com uma gestão realizadora como a atual”, explicou Zé Délio (MDB), presidente da Associação Goiana de Municípios, ao jornal Opção.
Esse laço explica por que tantos prefeitos eleitos pelo PL demonstram disposição para migrar à base caso o partido insista em oposição em 2026. Seis prefeitos anunciaram essa intenção em março deste ano. Hoje, são 22 dos 26 prefeitos do PL no estado que falam abertamente sobre se unir ao MDB ou UB, caso o partido os force a romper com o governo.
Mesmo os que não cogitam trocar de legenda carregam na biografia os vínculos com a base: Márcio Corrêa, prefeito de Anápolis pelo PL, já presidiu o MDB na cidade e foi apoiado por Daniel Vilela em outras disputas. “A base nunca se rompeu. O que houve foi um embarque na onda conservadora em 2024, puxada por Bolsonaro”, aponta um analista político.
A direção nacional do PL sabe que a manutenção de seus quadros municipais depende diretamente da costura de um acordo com a base de Caiado e Vilela. Caso contrário, a debandada pode ser inevitável. Para manter os 26 prefeitos no partido, será necessário permitir a eles o apoio ao projeto estadual que já integram na prática — e, em troca, exigir o que mais interessa a Bolsonaro: um senador.
A equação não é simples, mas é politicamente eficaz. Uma chapa que una Daniel Vilela, Gracinha Caiado e um bolsonarista competitivo ao Senado é vista como poderosa. E Bolsonaro e Valdemar Costa Neto sabem disso.
A dúvida que permanece é se Bolsonaro aceitará abrir mão do discurso oposicionista em Goiás para garantir a vaga no Senado. Mas, pelo andar das conversas, a resposta tende a ser afirmativa — não por ideologia, mas por estratégia. Afinal, como tem repetido o próprio ex-presidente: “O jogo de 2026 já começou, e o Senado é a chave”.