24/05/25
O deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO) subiu o tom e escancarou a tensão interna no bolsonarismo goiano ao atacar diretamente o colega de partido e vereador por Goiânia, Vitor Hugo de Araújo, durante participação no programa “Papo Aberto”, na noite de segunda-feira, 19. Com tom inflamado e falando diretamente às câmeras, Gayer disparou: “Eu posso ser preso, eu posso ser cassado, eu posso sair do PL, mas candidato ao Senado aqui em Goiás você não será se depender de mim.”
A declaração marca mais um capítulo da disputa feroz entre dois nomes que desejam representar o bolsonarismo na corrida ao Senado em 2026. Gayer parece decidido a manter seu nome no jogo, mesmo sob ameaça de ações no Supremo Tribunal Federal (STF) que podem culminar em sua cassação ou inelegibilidade.
O deputado é alvo de processos que se acumulam na Suprema Corte e tem consciência de que o desfecho pode vir ainda em 2025, no segundo semestre, já que o STF tende a evitar julgamentos de parlamentares em exercício em ano eleitoral. Apesar disso, Gayer segue tentando consolidar sua imagem como o representante mais fiel da ala ideológica de Jair Bolsonaro em Goiás.
O maior obstáculo, no entanto, parece vir de dentro do próprio campo bolsonarista. Major Vitor Hugo, como é conhecido, possui laços estreitos com Bolsonaro e tem atuado como ponte entre o ex-presidente e setores mais moderados da política goiana. É justamente essa postura conciliadora que irrita Gayer e seus aliados, que acusam Vitor Hugo de “ceder” demais ao pragmatismo político.
A rivalidade entre os dois não é recente, mas ganhou novos contornos após Vitor Hugo articular o encontro entre Daniel Vilela (MDB), atual vice-governador de Goiás e pré-candidato ao governo estadual, e o ex-presidente Bolsonaro. O gesto gerou nota de repúdio assinada pela cúpula do PL goiano, incluindo o próprio Gayer e o senador Wilder Morais.
A aproximação de Vitor Hugo com Vilela — e, por consequência, com o governador Ronaldo Caiado (União Brasil) — pode resultar em um acordo nacional entre Bolsonaro e Caiado para 2026. Nesse cenário, o PL abriria mão da cabeça de chapa para o governo estadual e apoiaria Vilela. Em contrapartida, teria direito a duas indicações ao Senado — uma delas sendo a primeira-dama Gracinha Caiado, e a outra, possivelmente, Vitor Hugo, pelo papel de articulador.
Gayer isolado
Esse arranjo deixaria Gayer sem espaço na disputa majoritária, o que pode explicar sua postura beligerante. O deputado parece ciente de que sua sobrevivência política dependerá de dois fatores: não ser cassado e permanecer relevante dentro do PL. Se não conseguir emplacar sua candidatura ao Senado, ele poderá tentar a reeleição para a Câmara Federal, atuando como puxador de votos.
A movimentação de Gayer indica que, apesar das turbulências jurídicas e das tensões dentro do partido, ele não pretende sair de cena sem lutar. Ao confrontar publicamente um aliado próximo de Bolsonaro, o deputado joga alto — e deixa claro que, se depender dele, a candidatura de Vitor Hugo ao Senado não será tranquila.