25/05/25
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) demonstrou profunda insatisfação com o rumo das disputas internas do Partido Liberal em Goiás. O estopim da crise foi uma entrevista concedida ao vivo no programa Papo Aberto, da TV Capital, na última segunda-feira, 19, que se transformou em um verdadeiro tribunal informal contra o vereador goianiense e ex-deputado federal Major Vitor Hugo — figura próxima de Bolsonaro e apontado como um dos seus possíveis candidatos ao Senado em 2026.
No estúdio, o senador Wilder Morais, presidente do PL em Goiás, o deputado federal Gustavo Gayer e o vereador Oséias Varão se revezaram em ataques duros contra Vitor Hugo, que foi chamado de “covarde” e “câncer” dentro da legenda. Gayer foi o mais agressivo: “Um partido não vai pra frente com um câncer interno como esse. Peça para sair”, disse. E completou: “Vou falar a verdade sobre o que você tem feito, a maneira que tem tentado sabotar o PL, sabotar nosso líder aqui, o senador Wilder Morais.”
Wilder, por sua vez, optou por um tom mais contido, mas não menos direto. Usando o quadro “Like ou Bloqueia” do programa como metáfora, declarou: “A decisão do nosso grupo político: hoje você está sendo bloqueado porque não faz parte do grupo. Você não construiu nada disso. Poderia ser um dos convidados nossos. Infelizmente, você não quis participar. Quis andar sozinho. Então, é catitu fora do bando.”
A ofensiva pública escancarou um conflito que já vinha crescendo nos bastidores do PL goiano. Vitor Hugo, embora alinhado ao bolsonarismo, tem adotado uma postura considerada moderada dentro da sigla e foi responsável por articular pontes entre Bolsonaro e o vice-governador de Goiás, Daniel Vilela (MDB), possível candidato à sucessão de Ronaldo Caiado (União Brasil). A costura política feita por Vitor Hugo visava garantir uma vaga na chapa majoritária ao Senado — movimentação que desagradou Wilder e Gayer, que disputam o mesmo espaço.
O ataque orquestrado contra o vereador gerou desconforto entre prefeitos do PL em Goiás e, sobretudo, no entorno do próprio Jair Bolsonaro. Segundo fontes do partido, o ex-presidente entrou em contato com Vitor Hugo por WhatsApp para demonstrar solidariedade e pediu que o aliado não respondesse às provocações. Bolsonaro também teria conversado com Gayer, em tom de repreensão, na tentativa de apaziguar os ânimos.
A avaliação do ex-presidente, conforme o jornal Opção, é de que o episódio criou um foco de tensão desnecessário e contraproducente em um estado estratégico para o PL. Envolvido em múltiplos problemas judiciais, com a inelegibilidade mantida e enfrentando questões de saúde, Bolsonaro não quer ver sua base política se fraturar por disputas de ego e protagonismo regional. Segundo aliados, o ex-presidente “não tem mais energia para administrar fogo amigo”, especialmente em um diretório considerado essencial para manter influência nacional.
A instabilidade no comando do PL em Goiás, hoje capitaneado por Wilder e Gayer, começa a preocupar prefeitos filiados ao partido, que veem a legenda se transformar em um campo minado. Nos bastidores, lideranças locais já ensaiam um movimento de distanciamento, temendo os reflexos políticos da crise interna. “Com essa fumaça toda, ninguém consegue enxergar um futuro promissor”, avaliou um prefeito do interior goiano ao Opção.
A guerra aberta entre os grupos, exposta ao vivo e em cores para a opinião pública, deixa o PL em Goiás em uma encruzilhada: ou encontra um ponto de equilíbrio e reconstrução interna ou corre o risco de chegar a 2026 profundamente fragmentado — com ou sem o aval de Jair Bolsonaro.