31/05/25
Na edição deste sábado, 31, do jornal O Popular, a jornalista Cileide Alves publicou um artigo intitulado "Sinto vergonha do Parlamento". Nele, ela analisa com rigor e indignação o episódio da última terça-feira, 27, quando a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, foi alvo de ataques agressivos por parte de senadores durante audiência na Comissão de Infraestrutura do Senado. Mais do que um incidente isolado, o episódio é retratado por Cileide como parte de um movimento mais amplo e sistemático de erosão das políticas ambientais brasileiras.
Segundo a jornalista, os ataques protagonizados por Marcos Rogério (PL-RO), Plínio Valério (PSDB-AM) e Omar Aziz (PSD-AM) “descortinaram um movimento iniciado em abril de 2020”, quando o então ministro Ricardo Salles propôs “passar a boiada” enquanto o país estava mergulhado na crise da pandemia. A metáfora de Salles, na visão de Cileide, deixou de ser apenas uma bravata para se tornar uma estratégia política coordenada entre parlamentares, setores retrógrados da indústria e bancadas ruralistas, unidos por um objetivo comum: afrouxar sistematicamente as regras ambientais no Brasil.
Cileide aponta que a “boiada avança” e não passou apenas em nível federal, mas também nos estados. Em Goiás, por exemplo, a Assembleia Legislativa aprovou quatro leis entre 2021 e 2023 que flexibilizam normas ambientais. Leis semelhantes avançaram em estados como Mato Grosso e Rio Grande do Sul — não por coincidência, os maiores produtores de grãos e gado do país.
O foco do artigo, no entanto, recai sobre o recente avanço do Projeto de Lei 2.159/2021, conhecido como a nova Lei Geral do Licenciamento Ambiental, aprovado pelo Senado em 21 de maio. O projeto é apresentado oficialmente como uma medida para "uniformizar e simplificar" o licenciamento no país. Mas, como denuncia a jornalista, trata-se na prática de uma perigosa flexibilização, com destaque para a chamada Licença por Adesão e Compromisso (LAC), que permite que empreendimentos considerados de baixo impacto sejam licenciados apenas por autodeclaração — sem avaliação prévia de órgãos ambientais.
Foi nesse contexto que Marina Silva compareceu ao Senado. Em vez de ser ouvida com o respeito que sua trajetória impõe — a ministra é reconhecida internacionalmente por sua atuação ambiental —, foi alvo de ataques virulentos, que, segundo Cileide, foram orquestrados pelos “chicotes do presidente da Casa, senador Davi Alcolumbre (UB-AP), que patrocinou a aprovação do PL do licenciamento”.
A jornalista aproveita o episódio para traçar um paralelo entre esse tipo de violência discursiva e a deterioração da convivência democrática nos parlamentos brasileiros desde a ascensão da extrema direita em 2018. Cita como exemplo a recente atitude do deputado goiano Amauri Ribeiro (PL), que em plenário expôs a vida pessoal da deputada Bia de Lima (PT), numa tentativa de constrangimento que, segundo ela, “é estratégia de comunicação violenta usada falsamente como debate ideológico, com a complacência da Casa, majoritariamente formada por homens”.
Na conclusão do artigo, Cileide evoca o discurso do senador Fabiano Contarato (PT-ES), que no dia seguinte ao episódio pediu desculpas públicas à ministra e declarou sentir “vergonha do Parlamento” — sentimento que, segundo a jornalista, “se espalha pela sociedade”. “O Brasil precisa do agronegócio, assim como do meio ambiente. Não é possível fingir que um sobreviverá sem o outro e o país sem os dois”, arremata.