08/06/25
Nem mesmo a anunciada fusão com o Podemos tem conseguido conter a sangria interna que atinge o PSDB. O partido, outrora uma das forças mais influentes da política nacional, vive hoje um dos momentos mais delicados de sua trajetória, marcado pela saída de lideranças históricas, fragilidade nas bases e o risco real de não atingir a cláusula de desempenho em 2026.
A tentativa de se reestruturar para as próximas eleições passa pela incorporação do Podemos — e não o contrário — numa estratégia jurídica para evitar que parlamentares usem a fusão como argumento para deixar a legenda sem perder o mandato. Ainda assim, o movimento tem surtido pouco efeito prático.
Dois dos três governadores eleitos pelo PSDB em 2022 já deixaram a sigla: Eduardo Leite (RS) e Raquel Lyra (PE) migraram para o PSD. O terceiro, Eduardo Riedel (MS), também é alvo de assédio por outras legendas. No Congresso Nacional, a bancada tucana encolhe a olhos vistos e a permanência no jogo eleitoral depende agora de cálculos cada vez mais apertados.
Em São Paulo, berço histórico do tucanato, o desgaste é ainda mais visível. A expectativa nos bastidores é de que diversos deputados estaduais e federais aproveitem a janela partidária de abril de 2026 para trocar de legenda — ou o façam antes, caso o TSE valide a fusão. Nomes tradicionais como Mauro Bragato e Carlão Pignatari já indicaram que devem sair. Carla Morando e Maria Lúcia Amaury também estão de malas prontas, com PSD, PL, MDB e Republicanos na mira.
Na Câmara dos Deputados, Carlos Sampaio abandonou o partido e já responde a processo por infidelidade partidária. Enquanto isso, o interior paulista tem apenas 21 prefeituras comandadas pelos tucanos, e na capital o partido viu sua bancada de vereadores desaparecer em 2024, em parte pela condução desastrada da candidatura de José Luiz Datena, que teve fraco desempenho nas urnas.
Nesta semana, durante convenção nacional em Brasília, o PSDB aprovou o início formal da fusão com o Podemos, embora pontos essenciais como nome, número e identidade visual da nova legenda ainda estejam em discussão. A expectativa é protocolar o pedido na Justiça Eleitoral até o fim de julho e concluir o processo até outubro.
Caso aprovada, a nova sigla nasceria com 28 deputados federais, 7 senadores e acesso a cerca de R$ 90 milhões do fundo partidário — o que a colocaria como a quinta maior força do Congresso, ao menos no papel.
Apesar da aposta da cúpula tucana de que a união possa salvar o partido da irrelevância, o sentimento predominante entre filiados é de espera cautelosa — muitos já com um pé fora, à procura de abrigo em legendas mais sólidas. A fusão, ao que tudo indica, chegou tarde demais para estancar a fuga.