17/07/25
A ofensiva do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra o Brasil – com a imposição de tarifas de 50% sobre produtos de exportação – produziu efeitos inesperados no cenário político brasileiro: ajudou a recuperar parte da popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e, ao mesmo tempo, fragilizou a posição de Jair Bolsonaro (PL), seu principal adversário.
Segundo análise do CEO da Quaest, Felipe Nunes, com base na pesquisa Genial/Quaest divulgada nesta quarta-feira (16), o “confronto com Trump ajuda o governo Lula a recuperar popularidade”. Os dados mostram que a aprovação do presidente subiu de 40% para 43% entre maio e julho, enquanto a desaprovação caiu de 57% para 53% no mesmo período. O saldo negativo, que era de -17 pontos percentuais, melhorou para -10.
A pesquisa também mediu diretamente a percepção dos brasileiros sobre o tarifaço. Para 72% dos entrevistados, Trump está errado ao impor as taxas sob a justificativa de que o Brasil estaria perseguindo Bolsonaro. Além disso, 53% acham que o governo Lula acertou ao reagir com medidas de reciprocidade, enquanto apenas 39% consideram a resposta equivocada. Já em relação às críticas de Lula feitas durante o encontro do Brics, 55% entendem que o presidente brasileiro provocou Trump deliberadamente — o que, ainda assim, não parece ter gerado rejeição majoritária.
O movimento positivo nas pesquisas não ocorreu dentro das bases tradicionais do petismo, o que torna o dado ainda mais significativo. De acordo com Felipe Nunes, o crescimento da aprovação ocorreu principalmente em regiões antes mais críticas ao governo. No Sudeste, por exemplo, a diferença negativa caiu de 32 para 16 pontos percentuais. Houve melhora também em segmentos da população com maior escolaridade, renda mais alta e perfil ideológico de centro e centro-direita — onde Lula enfrentava maior resistência.
O contraste se torna ainda mais evidente diante do silêncio de Bolsonaro e de seus aliados sobre o ataque comercial vindo de Trump, político com quem mantém uma relação próxima e alinhada ideologicamente. A falta de defesa do setor exportador e do Pix — também alvo de investigação do governo norte-americano — expôs Bolsonaro à crítica de submissão e omissão diante de um aliado internacional, ampliando seu desgaste entre eleitores economicamente ativos.
A Quaest também avaliou o impacto de outros temas em debate, como a taxação dos super-ricos e a percepção sobre a economia, mas, segundo Nunes, esses fatores tiveram papel secundário na melhora da imagem do governo. A ideia de “justiça tributária”, por exemplo, só foi reconhecida por 43% da população. “A disputa com Trump acabou se tornando o maior catalisador de apoio ao governo Lula nos últimos meses”, afirmou o CEO.