01/08/25
Dois filhos do casal responsável pelas instituições investigadas por suspeitas de desvio de emendas parlamentares em Goiânia atuaram como comissionados no gabinete do então vereador Leandro Sena (Solidariedade), na Câmara Municipal, durante parte de 2023. Ambos aparecem também como conselheiros do Instituto Vida, uma das entidades beneficiadas com recursos públicos via emenda impositiva do próprio parlamentar.
Leandro Sena repassou, em novembro do ano passado, R$ 85 mil ao Instituto Vida, presidido por Valéria Ataídes Curado Silva, esposa do advogado Jean Jesus Magno Lima e Silva. A destinação, no entanto, não era a prevista originalmente: o valor havia sido incluído no orçamento para apoiar um evento de motocicletas organizado por outra entidade. Apesar da mudança e do vínculo entre o parlamentar e a família beneficiada, esse repasse específico ainda não é alvo da Polícia Civil.
A Delegacia Estadual de Combate à Corrupção (Deccor) apura o uso de duas emendas parlamentares de 2024 — uma de R$ 1,5 milhão de Novandir Rodrigues (MDB) para o Instituto Ação Goiás, e outra de R$ 339,2 mil do próprio Leandro Sena para o Instituto Vida. As duas instituições são presididas, respectivamente, por Jean e Valéria, que são marido e mulher.
Além dos repasses já investigados, os institutos mantêm planos de captar mais R$ 2,17 milhões em 2025, com recursos públicos provenientes de novas emendas parlamentares — agora voltadas não só à promoção de exposições de carros antigos, como também à realização de consultas oftalmológicas e distribuição de óculos.
A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) ainda analisa duas propostas que, juntas, somam R$ 1,6 milhão apenas para o Ação Goiás. O instituto pretende realizar quase 3 mil consultas e fornecer óculos gratuitamente, embora ainda não tenha detalhado onde ou como o serviço será prestado. O único médico registrado como oftalmologista da entidade nega qualquer vínculo com a instituição e afirma que jamais autorizou o uso de seu nome.
Parte dessas propostas foi possível graças a uma mudança recente na legislação municipal, sancionada em maio deste ano. A nova regra dispensa as entidades de comprovar vínculo com o SUS ou experiência prévia na área — basta uma autodeclaração, como a que foi assinada por Jean.
Mesmo com sede registrada em um imóvel em reforma sem qualquer sinalização visível e com histórico concentrado em eventos culturais e ambientais, o Ação Goiás busca se reposicionar como prestador de serviços de saúde. Já o Instituto Vida continua focado na realização de eventos e atividades ambientais.