15/08/25
Sob o comando de Gilvane Felipe (Cidadania), indicado por influência direta do ex-governador Marconi Perillo (PSDB), o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em Goiás tem acumulado decisões que reforçam a percepção de contradição e seletividade na atuação. Enquanto se mostra rígido para barrar projetos que seguem critérios técnicos de preservação, o órgão flexibiliza suas próprias regras e autoriza intervenções que desfiguram áreas tombadas, levantando suspeitas de motivações políticas para criar entraves à gestão estadual de Ronaldo Caiado (União Brasil).
A incoerência é visível já na sede do próprio Iphan, na Praça Cívica, em Goiânia. O prédio, tombado no conjunto Art Déco da capital, recebeu reformas com estruturas metálicas e placas de vidro que destoam de suas características originais. É o típico “faça o que eu digo, não faça o que eu faço”: quando a intervenção é em seu próprio espaço, o instituto se permite o “puxadinho” que não toleraria em outros imóveis.
A mesma lógica foi aplicada na autorização para instalação das plataformas e estações do BRT na Praça Cívica e na Avenida Goiás. As estruturas metálicas, apelidadas de “gaiolas”, romperam a harmonia do maior conjunto Art Déco de Goiás, mas receberam o aval do Iphan — uma decisão que contrasta com o rigor usado para barrar, por exemplo, a reconstrução do Cavalhódromo de Pirenópolis. Esse projeto, elaborado pela Secretaria da Cultura e pela Secretaria de Infraestrutura, segue padrões de preservação, mas foi travado por uma portaria de 1995, cuja revisão só deve ocorrer em 2026, paralisando a obra por anos.
Enquanto impede Pirenópolis de avançar, o Iphan também se mantém inerte diante do iminente colapso da Igreja de Nossa Senhora da Boa Morte, na cidade de Goiás. O prédio, que abriga o Museu de Arte Sacra, está em ruínas e ameaça destruir um acervo de mais de 900 peças, incluindo obras do “Aleijadinho goiano”, José Joaquim da Veiga Valle. O risco é conhecido, mas o órgão não apresenta ação efetiva, nem mesmo após o governo estadual oferecer apoio técnico para a restauração.
O que se vê é uma gestão que parece menos preocupada com a preservação e mais com disputas políticas e alinhamentos pessoais. A falta de articulação com o Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) e a recusa em transferir a gestão de patrimônios ameaçados ao Estado revelam um cenário em que a omissão se mistura à seletividade, colocando em risco a memória histórica e cultural de Goiás.