17/08/25
A relação entre a dívida pública bruta e o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil deve superar 80% em 2026, segundo projeções do Tesouro Nacional. Hoje em 76,6%, o indicador reflete o peso de juros altos, déficits recorrentes e despesas obrigatórias crescentes, fatores que podem limitar o crescimento econômico do país por pelo menos uma década.
O avanço do endividamento decorre da elevação do custo da dívida com a taxa de juros em dois dígitos e da expansão dos gastos com previdência e benefícios sociais. Especialistas apontam ainda a ausência de reformas fiscais estruturais que controlem a trajetória da dívida. O governo Lula implantou o Novo Arcabouço Fiscal, que restringe o crescimento das despesas a 70% da variação real das receitas do ano anterior. A eficácia da medida, porém, é questionada diante das projeções.
O cenário se agrava com fatores externos. Em julho, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou tarifas sobre produtos brasileiros como café, carne, suco de laranja e itens aeroespaciais. A medida foi interpretada como retaliação política e atingiu setores que dependem do mercado norte-americano.
O governo brasileiro anunciou um pacote de R$ 30 bilhões para apoiar empresas afetadas, com linhas de crédito, isenções fiscais e estímulo ao consumo interno. Paralelamente, intensificou a busca por novos mercados, com prioridade para China, Índia, Rússia e África do Sul, dentro da estratégia de fortalecimento dos BRICS.
Estudos indicam que, em países emergentes, quando a dívida pública supera 64% do PIB, o potencial de crescimento econômico é reduzido. O Brasil já ultrapassou esse limite e se aproxima de patamares que podem comprometer investimentos e a confiança de agentes econômicos.
A diversificação das exportações é vista como caminho para reduzir a dependência dos EUA, mas enfrenta obstáculos em setores historicamente ligados ao mercado norte-americano, como o de calçados e o de proteína animal.
Política e economia
A oposição tem explorado o impacto das tarifas para criticar a condução econômica do governo, enquanto Lula reforça o discurso de defesa da soberania e da necessidade de alternativas para manter o crescimento.
O país, portanto, enfrenta uma encruzilhada: conter o avanço da dívida e manter equilíbrio fiscal, ao mesmo tempo em que busca reposicionar-se no comércio internacional em meio a tensões diplomáticas.