18/08/25
A secretária de Cultura de Goiás, Yara Nunes, classificou como “um verdadeiro absurdo” a decisão do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) de autorizar a implantação do BRT Norte-Sul no trecho da Praça Cívica, em Goiânia. O local concentra parte significativa do conjunto arquitetônico e urbanístico art déco tombado pelo próprio instituto e é um marco histórico da construção da capital, na década de 1930.
“A Praça Cívica reúne grande parte dos edifícios tombados pelo próprio Instituto e pertencentes ao Conjunto Arquitetônico Art Déco e Urbanístico de Goiânia. Apesar de algumas ponderações do Iphan, houve de fato o comprometimento na leitura do traçado tombado, bem como da riqueza de todo o patrimônio cultural que o compõe”, afirmou.
Para Yara, o histórico recente de decisões do Iphan em Goiás reforça a percepção de que o órgão tem adotado critérios distintos, guiados por interesses pouco transparentes de sua gestão. “A própria sede do Iphan, que integra o conjunto arquitetônico Art Déco da Praça Cívica, passou por uma intervenção que incluiu estruturas metálicas e placas de vidro, modificando suas características originais. É uma contradição evidente e inaceitável para um órgão cuja missão é justamente preservar o patrimônio histórico”, afirmou.
A região central da capital abriga 22 edificações art déco protegidas pelo Iphan, com características como formas geométricas, recortes nas fachadas e elementos decorativos estilizados, representando um dos maiores acervos do gênero no Brasil. Para Yara, a autorização dada pelo órgão também desconsiderou o impacto ambiental da retirada de árvores na Praça Cívica para a instalação das estações do BRT. “O replantio não tem a mesma eficiência de uma árvore cheia de vida e que está prestando seu papel de forma saudável”, disse.
Segundo a secretária, desde o início das obras do BRT nos trechos que abrigam edifícios tombados, o Iphan “demonstrou despreocupação quanto à preservação e integridade dos prédios históricos”. Ela também lembrou uma fala do governador Ronaldo Caiado sobre o tema. “O próprio governador questionou o compromisso do Iphan. Ele disse que sabia onde estava o compromisso do Iphan ‘com aquelas gaiolas que foram construídas ali, com exatamente esse cenário da Praça Cívica, que é, por certo, o único e o maior monumento que nós temos em Goiás, o maior conjunto arquitetônico de art déco’”, lembrou.
Yara também citou outros casos que, segundo ela, demonstram a falta de prioridade do Iphan com a preservação e o fortalecimento do patrimônio cultural goiano. Entre eles, a paralisação da construção do novo Cavalhódromo de Pirenópolis, que substituiria a antiga estrutura por uma arena multiuso voltada à valorização cultural e ao turismo. A obra está parada após negativa do órgão, impedindo a Prefeitura de liberar o alvará de construção.
“O órgão em Goiás barrou uma obra de extrema importância para o município e todos os indícios são por conta de interesses políticos”, afirmou, apontando que a superintendência é comandada por Gilvane Felipe, ex-secretário do ex-governador Marconi Perillo.
Outro exemplo citado foi a situação da Igreja de Nossa Senhora da Boa Morte, na cidade de Goiás, que abriga o Museu de Arte Sacra e apresenta sinais de deterioração, como janelas caindo e estruturas comprometidas. “Um verdadeiro descaso do órgão que deveria defender, preservar e priorizar esse patrimônio, mas escolhe fazer política e atrapalhar a valorização das riquezas goianas”, concluiu.