24/08/25
Com a possibilidade de cassação do deputado federal Gustavo Gayer (PL), o partido em Goiás se vê diante da necessidade de reavaliar seus planos eleitorais para 2026. O parlamentar, que foi o segundo mais votado no estado em 2022 com mais de 200 mil votos, enfrenta uma série de processos judiciais e éticos que podem comprometer sua permanência na política.
Na última semana, o presidente da Câmara, Hugo Motta, encaminhou ao Conselho de Ética 20 pedidos de abertura de processos por quebra de decoro contra 11 deputados, entre eles Gayer. A representação foi apresentada pelo PT, que acusa o goiano de distorcer falas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de proferir ofensas contra Lindbergh Farias, Gleisi Hoffmann, Davi Alcolumbre e o próprio Motta. Em vídeos publicados nas redes sociais, Gayer chegou a chamar Lula de “cafetão” e a comparar Gleisi a um “objeto sexual”.
Desde que se elegeu surfando na onda bolsonarista, Gayer se tornou um dos principais rostos da oposição ao governo Lula. Ao lado de Nikolas Ferreira, ganhou projeção nacional por discursos inflamados que circulam nas redes sociais. O prestígio o colocou, em 2024, como opção do ex-presidente Jair Bolsonaro para disputar a Prefeitura de Goiânia, mas sua candidatura foi descartada em favor de Fred Rodrigues, posteriormente derrotado por Sandro Mabel (UB).
Além das queixas-crime apresentadas pelo senador Vanderlan Cardoso (PSD) e de investigações por suspeita de uso irregular da cota parlamentar, o risco de perda do mandato agora atinge diretamente os planos do PL para 2026. O partido pretendia lançá-lo ao Senado e até articulava uma composição com a base de Ronaldo Caiado, que incluiria apoio ao MDB de Daniel Vilela em troca do respaldo caiadista a Gayer.
Com o futuro do deputado em xeque, aliados já falam em alternativas. Uma delas seria recolocar o nome de Major Vitor Hugo como opção para a disputa ao Senado. Outra possibilidade é recorrer judicialmente contra a resolução da Executiva Nacional do PL, que neste mês proibiu parlamentares de apoiar pré-candidaturas de outras siglas — regra que inviabiliza uma composição formal com a base caiadista.
Nos bastidores, a crise de Gayer desperta reações diversas. Enquanto parte da base teme perder um nome de forte apelo popular, outros enxergam no episódio uma oportunidade para ocupar espaço em uma eventual vaga aberta.
Cenário nacional
A turbulência no PL em Goiás reflete dificuldades mais amplas do partido. No plano nacional, Jair Bolsonaro cumpre prisão domiciliar e enfrenta risco crescente de condenação por tentativa de golpe de Estado. Sem um sucessor claro, a legenda, que ainda detém a maior bancada da Câmara, vê sua força fragilizada.
Para analistas políticos, o partido terá de recalcular a rota em Goiás e em outros estados. Independentemente do desfecho das ações contra Gayer, o PL já não dispõe da mesma posição confortável que ocupava nas eleições de 2022 e pode enfrentar debandada de filiados diante da instabilidade.