27/08/25
Marconi Perillo (PSDB) reapareceu em cena com uma entrevista à CBN Goiânia, mas em vez de falar do passado com realismo ou admitir erros de gestão, preferiu revisitar sua trajetória com tintas de fantasia. Em pouco mais de 18 minutos, foi capaz de se apresentar como protagonista da regionalização da saúde, da industrialização do Estado, da transformação da segurança pública e até de minimizar a relevância do Cora, o maior hospital oncológico público do Centro-Oeste. Um currículo invejável — se não fosse apenas no discurso.
Na área da segurança, Marconi garantiu ter deixado avanços. A realidade, porém, é que entre 2011 e 2018 a taxa de homicídios cresceu 0,5% ao ano, chegando a 47 mortes por 100 mil habitantes — patamar digno de países em conflito. Já na gestão de Ronaldo Caiado, o índice despencou 52%, caindo para 21 por 100 mil, abaixo da média nacional. Mas é claro que, na versão tucana, essa estatística incômoda deve ter sido apenas um “detalhe sem importância”.
O ex-governador também mostrou generosidade com os números do PIB. Declarou, com convicção, que a economia goiana cresceu 12 vezes em seus mandatos. Na prática, entre 2011 e 2018, o PIB saltou de R$ 121 bilhões para R$ 195,7 bilhões, um crescimento nominal de 61%. Ao descontar a inflação, restam modestos 7,3%. Para efeito de comparação, de 2019 a 2024, Goiás cresceu 39% em termos reais. Talvez Marconi tenha descoberto um método alternativo de cálculo, mais afeito a campanhas eleitorais do que à realidade.
E se no PIB a matemática foi criativa, no emprego a memória foi seletiva. O tucano garantiu que o nível de empregos era elevado, mas os dados mostram outra história: em oito anos, o número de ocupados cresceu apenas 230 mil, enquanto os salários reais caíram. Já no atual governo, foram quase 500 mil novos postos de trabalho, com a renda média subindo de R$ 2.900 para R$ 3.400, acima da média nacional. Um contraste que talvez explique por que muitos goianos não lembram da tal “prosperidade” que ele insiste em ressuscitar.
Na saúde, Marconi chegou a classificar o Cora como um “hospital pequeno”, citando um suposto custo bilionário. O fato é que Goiás, em sua gestão, não deixou sequer um hospital especializado em câncer. Já o Cora, com 177 mil m², R$ 192,7 milhões em obras e R$ 63,2 milhões em equipamentos, foi concebido com padrão internacional e hoje é referência nacional.
O discurso social também destoou da realidade. Marconi disse ter se destacado, mas a taxa de pobreza em Goiás subiu de 7% em 2012 para 8% em 2018, colocando 70 mil pessoas a mais abaixo da linha de pobreza. No governo seguinte, a taxa caiu para 1,3%, a menor da história do Estado e a segunda mais baixa do Brasil. Talvez o tucano tenha confundido “reduzir” com “aumentar”. Já na indústria, alegou que trabalhou duro, mas entregou crescimento médio de 3,2%, abaixo da média nacional. Se esse foi o “trabalho duro”, os goianos poderiam dispensar o esforço. Já no governo atual, o setor avançou 17%, três vezes acima do índice do país.
No fim, a entrevista de Marconi teve o mérito de refrescar a memória do eleitor. Foi uma aula prática de como recontar o passado com convicção e confiança, ainda que os números digam o contrário. E nisso, convenhamos, o tucano segue imbatível: se a política fosse uma competição de mentiras, talvez ainda fosse campeão.