30/10/25
A Câmara Municipal de São Paulo aprovou nesta quarta-feira (29/10) a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar suspeitas de desvio de recursos públicos e irregularidades fiscais envolvendo o Jockey Club da capital. A apuração foi motivada por uma reportagem do UOL que apontou o possível repasse irregular de parte dos R$ 83,6 milhões em incentivos fiscais destinados à restauração da sede histórica do clube para empresas e pessoas próximas ao ex-governador de Goiás e presidente do PSDB, Marconi Perillo.
A CPI foi proposta pelo vereador Gilberto Nascimento (PL) e vai apurar a gestão de débitos tributários, a alienação de potencial construtivo e possíveis omissões do poder público. O colegiado terá nove membros, mas ainda não há data definida para a instalação. Para permitir a criação de mais comissões, a Câmara alterou o Regimento Interno, autorizando até quatro CPIs simultâneas durante as sessões de 2025 e 2026.
O nome de Marconi Perillo aparece no centro das suspeitas por sua ligação com o Jockey Club. O ex-governador se mudou para São Paulo em 2019, após perder a eleição para o Senado, tornou-se sócio do clube no mesmo ano e passou a integrar seu conselho em 2022. Segundo a investigação jornalística, o Jockey recebeu R$ 22,4 milhões por meio da Lei Rouanet e outros R$ 61,2 milhões via incentivos fiscais municipais — parte desses valores teria beneficiado uma rede de empresas com vínculos diretos com o ex-governador.
Entre elas está a produtora cultural Elysium, que assumiu a representação do Jockey em 2020. A empresa foi transformada em Organização Social de Cultura (OSC) em 2014 por um decreto assinado pelo próprio Perillo, quando ainda era governador de Goiás. A Elysium teria contratado fornecedores ligados à família de Débora Perillo, prima do tucano, e direcionado pagamentos a construtoras sem sede física ou registro de atividades compatíveis com os valores recebidos.
A investigação menciona ainda a construtora Vidal, que teria recebido R$ 11,2 milhões, mas não foi localizada em nenhum dos endereços informados, além de outras empresas com documentos inconsistentes. Há suspeitas de duplicidade de notas fiscais e uso de recursos públicos para custear jantares, compras e serviços pessoais, despesas que o Ministério da Cultura considera irregulares para projetos financiados pela Lei Rouanet.
Marconi Perillo negou qualquer envolvimento nas irregularidades. Em nota, classificou as acusações como “leviandade absurda”, disse conhecer apenas “de vista” a empresária citada e afirmou que todas as contas da Elysium e do Jockey estão “rigorosamente legais”. A CPI deve começar os trabalhos nas próximas semanas e promete trazer à tona detalhes sobre o uso de recursos públicos e os vínculos políticos no caso que envolve um dos clubes mais tradicionais da capital paulista.