14/12/25
O Partido Liberal (PL) em Goiás entra no ciclo eleitoral de 2026 diante de um impasse estratégico. Após perdas relevantes nas eleições municipais de 2024, como as prefeituras de Goiânia e Aparecida de Goiânia, lideranças avaliam que a falta de pragmatismo cobrou preço alto. Para o próximo pleito, o debate se concentra no impacto de uma eventual candidatura do senador Wilder Morais ao governo estadual e nos reflexos dessa decisão para o partido como um todo.
Wilder Morais construiu trajetória empresarial fora da política antes de chegar ao Senado. Tornou-se senador após assumir a vaga aberta com a cassação de Demóstenes Torres, como primeiro suplente. A eleição direta veio apenas em 2022, quando, filiado ao PL, contou com apoio direto do então presidente Jair Bolsonaro e do bolsonarismo em Goiás.
Os números eleitorais ajudam a dimensionar esse cenário. Em 2018, Wilder obteve 796.387 votos (14,43%), ficando em terceiro lugar. Quatro anos depois, foi eleito com 799.022 votos, diferença de apenas 2.635 votos em relação ao pleito anterior, uma das menores votações já registradas para o Senado em Goiás. Na mesma comparação, Vanderlan Cardoso e Jorge Kajuru superaram a marca de 1,5 milhão de votos em 2018.
A leitura feita por dirigentes partidários é que o apoio do bolsonarismo foi decisivo para a vitória de Wilder em 2022. Sem esse fator, a avaliação interna é de que a disputa teria outro desfecho. Ainda assim, o senador tem sinalizado a aliados que pretende disputar o governo estadual em 2026.
O problema, segundo avaliações no próprio PL, é que uma candidatura de Wilder ao Palácio das Esmeraldas tende a enfrentar dificuldades. Pesquisas de intenção de voto o colocam atrás de Daniel Vilela (MDB), Marconi Perillo (PSDB) e Adriana Accorsi (PT). Uma derrota, embora não ameace seu mandato no Senado, pode ter efeito mais amplo sobre o partido.
A leitura é que uma campanha sem bases sólidas no interior pode afastar prefeitos e lideranças municipais. Nomes como Márcio Corrêa, em Anápolis, e Carlinhos do Mangão, em Novo Gama, já sinalizam alinhamento com Daniel Vilela. Sem estrutura municipal, candidatos majoritários e proporcionais tendem a perder competitividade.
O risco maior, segundo essa análise, é o impacto sobre a disputa ao Senado. O deputado federal Gustavo Gayer desponta como principal nome do PL para a vaga em 2026. Em 2022, foi um dos mais votados do país e se beneficiou de um cenário favorável ao bolsonarismo. No entanto, aliados avaliam que uma chapa encabeçada por Wilder ao governo pode reduzir as chances de Gayer, diante da força da estrutura governista no estado.
A base aliada do governador Ronaldo Caiado já trabalha com o nome de Gracinha Caiado para o Senado. A definição do segundo nome ainda depende de composições, que passam diretamente pela decisão do PL. Uma aliança com Daniel Vilela poderia abrir espaço para Gayer em uma chapa competitiva. Sem isso, o partido corre o risco de isolamento.
Internamente, a avaliação é que a escolha de um projeto visto como pessoal, e não partidário, pode resultar em perdas coletivas. Como alertam dirigentes, “derrotas atraem derrotas”. O entendimento é que o desempenho do candidato a governador influencia toda a chapa, do Senado à Assembleia Legislativa.
Nesse contexto, cresce a pressão para que o PL adote postura pragmática. Prefeitos e lideranças locais defendem aliança com a base governista como forma de preservar espaço político. A decisão final caberá à direção estadual, presidida por Wilder Morais, e às principais lideranças nacionais do partido.
A avaliação corrente é direta: a estratégia escolhida em 2026 pode definir se o PL mantém relevância no estado ou amplia o isolamento iniciado nas eleições municipais. Para aliados, o desfecho passa menos por projetos individuais e mais pela capacidade de leitura do cenário político.